terça-feira, 1 de outubro de 2013

PREPARE-SE PARA ENVELHECER




Este sério problema não poderia ficar esquecido, neste livro que se propôs a orientar o desejo humano de enriquecer-se e ser feliz. A velhice está inserida no contexto condicionador da espécie, desde que o mundo é mundo. Normalmente, as mulheres vivem muito mais do que os homens; atingem 80 a 90 anos e, quando chegam a essa idade, apresentam dependentes quase que em todos os sentidos.

A velhice dos que não tem família é mais cruciante do que as que têm filhos e parentes. Os filhos, principalmente representam muito mais para os pais, embora, na tenra idade, não tenham consciência disso. Uma mãe cria dez filhos, mas dez filhos não dão assistência a uma mãe.
Quanto mais velhos nos tornamos, mais se distanciam de nós os filhos, parentes e amigos. Os filhos casam-se e logicamente constituem famílias. Os netos, enquanto pequenos ainda se lembram dos avós; depois de casados, esquecem-nos também. 



Os bisnetos já não têm afinidades dos filhos e netos para com os avós e assim ficam ainda mais distantes. No mundo a velhice tornou-se um sério problema. A família permanece unida somente enquanto os membros dependem- se um dos outros. Depois de criar asas alçam-se em vôos e jamais se lembram de pais, irmãos e avós. O parentesco em geral tende ao esquecimento. E nesse mundo competitivo os velhos são tratados como simples bagaços inúteis, chegou-se a essa tamanha crueldade! Dificilmente os filhos deixam seus divertimentos, nos seus dias de folga para fazer uma visita aos pais e levar-lhes calor humano e alimentos para as suas necessidades: netos e bisnetos não oferecem o menor carinho aos avós.
Alcançadas suas minguadas pensões e aposentadorias, vivem os velhos em suas próprias casinhas completamente abandonados. 




Dificilmente um filho aparece para visitá-los, netos, noras, familiares todos desaparecem. A solidão e o esquecimento são completos. Jamais passa pela ideia de um jovem fazer uma visita a um avo ou a um bisavô e levar-lhe um agasalho, um remédio, um entretenimento, um pacote de bolachas, um doce uma palavra de carinho, com afeto e calor humano. Não. Ninguém aparece: são velhos a míngua e no esquecimento. Esta é a brutal realidade. 

O mundo, hoje constitui apenas de interesse e corrupção totais. Mães que carregam seus filhos durante meses no seu ventre, que foram sugadas em seus seios, doando a ultima gota de seu sagra do leite, beijos de seus lábios, caricias, calor humano, amparo, proteção, agasalho, hoje são abandonados por seu filhos com tal facilidade como se fossem um jornal velho, um trapo inútil, sem o menor reconhecimento. Esquecem os jovens que um dia ficarão velhos também e de que a vida é uma longa jornada para todos: os pequenos crescem, os adultos envelhecem e a velhice o fim para todos.
         Existem poucas pessoas que souberam se preparar para envelhecer. São poucos os idosos que chegaram ao tumulo independentes, sem precisar de ajuda de filhos, de parentes ou da sociedade. Esses são os verdadeiros gênios da vida: mesmo dispondo de humildes recursos, utilizaram-se dos recursos do espírito e chegaram a conclusões sublimes, compreenderam e superaram todos os obstáculos que a velhice apresenta.

         Os que são materialmente ricos tem também sérios problemas: em muitos casos são intoxicados por remédio e por uma falsa assistência medica que apresentam a morte. O único motivo da presença dos familiares e saber dos pormenores das suas fortunas e dos seus bens, para não serem lesados no inventario – estão ansiosos para ele o inventário e decorar os mínimos detalhes! Ante qualquer ameaça de doença que o velho apresente, todos pensam “Desta vez ele não escapa” já fazem planos, baseados no seu quinhão da partilha.
         Assim infelizmente é a vida: o ser humano, sem exceção é interesseiro, é cretino. Compete a cada um de nós meditar e observar seriamente, até as suas raízes, este serio problema. Sua gravidade e extensão, após sérios exames, apresentar-se-á a cada a um, de acordo com a sua ampla ou limitada visão. Esse é um problema que em grande parte compete aos governos, já que a família se omite totalmente, estamos conscientes que um estudo profundo acerca do assunto poderá trazer luz e uma boa parte da solução. O resto será sanado pelo seguimento do bom exemplo.
         Oportunidades de fazer o bem existem sempre. Portanto, sempre é tempo. O estado existe graças ao povo, e um velho por mais humilde que tenha sido em sua idade produtiva, necessariamente terá contribuído com algo para o Estado. Portanto o Estado terá de ampará-lo, já que a família se omite. Pensar que os jovens poderão interessar-se pelos problemas da velhice é utopia. Eles estão sonhando, estão vivendo um mundo colorido. Os velhos já estão acostumados com a dor, com o sofrimento, com os desenganos profundamente marcados na carne; são os eu amaram ontem e hoje são desarmados.
         Será inútil bater a porta dos jovens, em busca de ajuda, pois eles estão muito ocupados com a vida e não terão tempo para tender. Hoje são jovens, precisam viver a vida euforicamente, em toda a sua imensa extensão. Pensam consigo mesmo: “O que pode me oferecer um velho tremulo? Nada tem para me dar. Para que amparar um velho que a cada dia que passa está mais próximo do tumulo? Pregar aos jovens nos dias de hoje, que os velhos precisam de ajuda, carinho e respeito é utopia e loucura estamos na era da comunicação, estamos na era espacial – que os velhos fiquem na Terra. Os jovens pensam em ir para outros planetas, pensam em ir para os festivais, aos embalos, as orgias. Esta foi sempre a realidade da vinda que finda, a longa e grande estrada percorrida pelos velhos cansados e trêmulos. Mas os jovens ficarão velhos um dia é a imutável lei da natureza, que consome os velhos e lhes permite retornar continuamente a Cida como novas crianças. Explicando melhor, o circulo rotineiro da vida é: terminar-se velho e renasce-se de novo.
         Assim se processa a milenar história humana, em sua escada evolutiva e misteriosa finalidade da existência: “Do novo para o velho e do velho para o novo”. E a imutável lei da vida. Nascer e renascer. Para finalizar, um lembrete aos jovens: é bom que saibam que os velhos estão velhos, mas não estão mortos. Na sua maioria, estão mais vivos do que os jovens, pois estão sempre à frente, foram os que abriram caminhos para os jovens – tanto é verdade que esses caminhos que os jovens estão percorrendo foram abertos e já percorridos pelos velhos.
(Extraído do Livro: Prepare-se para enriquecer de Roberto Stanganelli.

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