Este
sério problema não poderia ficar esquecido, neste livro que se propôs a
orientar o desejo humano de enriquecer-se e ser feliz. A velhice está inserida
no contexto condicionador da espécie, desde que o mundo é mundo. Normalmente,
as mulheres vivem muito mais do que os homens; atingem 80 a 90 anos e, quando
chegam a essa idade, apresentam dependentes quase que em todos os sentidos.
A
velhice dos que não tem família é mais cruciante do que as que têm filhos e
parentes. Os filhos, principalmente representam muito mais para os pais,
embora, na tenra idade, não tenham consciência disso. Uma mãe cria dez filhos,
mas dez filhos não dão assistência a uma mãe.
Quanto
mais velhos nos tornamos, mais se distanciam de nós os filhos, parentes e
amigos. Os filhos casam-se e logicamente constituem famílias. Os netos,
enquanto pequenos ainda se lembram dos avós; depois de casados, esquecem-nos
também.
Os bisnetos já não têm afinidades dos filhos e netos para com os avós e
assim ficam ainda mais distantes. No mundo a velhice tornou-se um sério
problema. A família permanece unida somente enquanto os membros dependem- se um
dos outros. Depois de criar asas alçam-se em vôos e jamais se lembram de pais,
irmãos e avós. O parentesco em geral tende ao esquecimento. E nesse mundo competitivo
os velhos são tratados como simples bagaços inúteis, chegou-se a essa tamanha
crueldade! Dificilmente os filhos deixam seus divertimentos, nos seus dias de
folga para fazer uma visita aos pais e levar-lhes calor humano e alimentos para
as suas necessidades: netos e bisnetos não oferecem o menor carinho aos avós.
Alcançadas
suas minguadas pensões e aposentadorias, vivem os velhos em suas próprias
casinhas completamente abandonados.
Dificilmente um filho aparece para
visitá-los, netos, noras, familiares todos desaparecem. A solidão e o
esquecimento são completos. Jamais passa pela ideia de um jovem fazer uma
visita a um avo ou a um bisavô e levar-lhe um agasalho, um remédio, um
entretenimento, um pacote de bolachas, um doce uma palavra de carinho, com
afeto e calor humano. Não. Ninguém aparece: são velhos a míngua e no
esquecimento. Esta é a brutal realidade.
O
mundo, hoje constitui apenas de interesse e corrupção totais. Mães que carregam
seus filhos durante meses no seu ventre, que foram sugadas em seus seios,
doando a ultima gota de seu sagra do leite, beijos de seus lábios, caricias,
calor humano, amparo, proteção, agasalho, hoje são abandonados por seu filhos
com tal facilidade como se fossem um jornal velho, um trapo inútil, sem o menor
reconhecimento. Esquecem os jovens que um dia ficarão velhos também e de que a
vida é uma longa jornada para todos: os pequenos crescem, os adultos envelhecem
e a velhice o fim para todos.
Existem poucas pessoas que souberam se
preparar para envelhecer. São poucos os idosos que chegaram ao tumulo
independentes, sem precisar de ajuda de filhos, de parentes ou da sociedade.
Esses são os verdadeiros gênios da vida: mesmo dispondo de humildes recursos,
utilizaram-se dos recursos do espírito e chegaram a conclusões sublimes,
compreenderam e superaram todos os obstáculos que a velhice apresenta.
Os que são materialmente ricos tem
também sérios problemas: em muitos casos são intoxicados por remédio e por uma
falsa assistência medica que apresentam a morte. O único motivo da presença dos
familiares e saber dos pormenores das suas fortunas e dos seus bens, para não
serem lesados no inventario – estão ansiosos para ele o inventário e decorar os
mínimos detalhes! Ante qualquer ameaça de doença que o velho apresente, todos pensam
“Desta vez ele não escapa” já fazem planos, baseados no seu quinhão da
partilha.
Assim infelizmente é a vida: o ser
humano, sem exceção é interesseiro, é cretino. Compete a cada um de nós meditar
e observar seriamente, até as suas raízes, este serio problema. Sua gravidade e
extensão, após sérios exames, apresentar-se-á a cada a um, de acordo com a sua
ampla ou limitada visão. Esse é um problema que em grande parte compete aos
governos, já que a família se omite totalmente, estamos conscientes que um estudo
profundo acerca do assunto poderá trazer luz e uma boa parte da solução. O
resto será sanado pelo seguimento do bom exemplo.
Oportunidades de fazer o bem existem
sempre. Portanto, sempre é tempo. O estado existe graças ao povo, e um velho
por mais humilde que tenha sido em sua idade produtiva, necessariamente terá
contribuído com algo para o Estado. Portanto o Estado terá de ampará-lo, já que
a família se omite. Pensar que os jovens poderão interessar-se pelos problemas
da velhice é utopia. Eles estão sonhando, estão vivendo um mundo colorido. Os
velhos já estão acostumados com a dor, com o sofrimento, com os desenganos
profundamente marcados na carne; são os eu amaram ontem e hoje são desarmados.
Será inútil bater a porta dos jovens,
em busca de ajuda, pois eles estão muito ocupados com a vida e não terão tempo
para tender. Hoje são jovens, precisam viver a vida euforicamente, em toda a
sua imensa extensão. Pensam consigo mesmo: “O que pode me oferecer um velho
tremulo? Nada tem para me dar. Para que amparar um velho que a cada dia que
passa está mais próximo do tumulo? Pregar aos jovens nos dias de hoje, que os
velhos precisam de ajuda, carinho e respeito é utopia e loucura estamos na era
da comunicação, estamos na era espacial – que os velhos fiquem na Terra. Os
jovens pensam em ir para outros planetas, pensam em ir para os festivais, aos
embalos, as orgias. Esta foi sempre a realidade da vinda que finda, a longa e
grande estrada percorrida pelos velhos cansados e trêmulos. Mas os jovens
ficarão velhos um dia é a imutável lei da natureza, que consome os velhos e
lhes permite retornar continuamente a Cida como novas crianças. Explicando
melhor, o circulo rotineiro da vida é: terminar-se velho e renasce-se de novo.
Assim se processa a milenar história
humana, em sua escada evolutiva e misteriosa finalidade da existência: “Do novo
para o velho e do velho para o novo”. E a imutável lei da vida. Nascer e
renascer. Para finalizar, um lembrete aos jovens: é bom que saibam que os
velhos estão velhos, mas não estão mortos. Na sua maioria, estão mais vivos do
que os jovens, pois estão sempre à frente, foram os que abriram caminhos para
os jovens – tanto é verdade que esses caminhos que os jovens estão percorrendo
foram abertos e já percorridos pelos velhos.
(Extraído
do Livro: Prepare-se para enriquecer de Roberto Stanganelli.
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